Objetivo

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Sobre emagrecer

Eu não sei no caso das outras pessoas que sofrem com o excesso de peso, mas o meu está muito mais associado a questões psicológicas do que físicas.
Se, afinal, sou uma pessoa saudável e tenho muita facilidade em emagrecer, desde que eu siga uma dieta corretamente, por que não consigo? Porque comer, para mim, está muito mais associado à fuga dos problemas e frustrações do cotidiano do que à satisfação da fome e das necessidades do meu organismo.
Eu não como por fome, como a maioria das pessoas. Eu como por angústia, por desespero, por frustração. Comer, para mim, é como uma terapia. A raiva é amenizada por um bom brigadeiro. A tristeza é esquecida com uma lasanha e uma coca-cola. Nenhuma decepção amorosa resiste a um delicioso sonho de creme. A revolta e a mágoa ficam pequenas diante de uma barra de chocolate ao leite. Mas, claro, como em todo e qualquer vício, o efeito de me tirar da realidade é temporário. Passado alguns minutos da orgia alimentar, sinto um vazio e uma culpa muito grandes, além de perceber que toda aquela comilança, não só não resolveu meu problema, como o agravou, pois, além de triste, revoltada, frustrada, magoada, estou, ainda por cima, gorda.
Não tenho nada contra os gordos e, além disso, abomino os padrões de beleza impossíveis impostos pela sociedade, que nos escravizam e levam nossa autoestima ao chão, mas tenho percebido que emagrecer é muito mais que uma questão de estética: é, principalmente, questão de saúde, tanto física quanto mental.
Admiro as pessoas que levantam a bandeira do “Gordo e feliz” e realmente sentem-se assim, não se importam com o que os outros pensam, sentem-se confortáveis com suas formas, estão com a saúde em dia e são pessoas bem resolvidas, tranquilas e alegres. Mas este não é o meu caso. O excesso de peso está prejudicando a minha saúde física e mental. O simples ato de levantar-se de uma cadeira ou subir no ônibus tornou-se uma tortura para mim. Meus joelhos doem tanto, que há dias que mal consigo dobrar as pernas. Meu corpo não está mais suportando o meu próprio peso, e, além dos joelhos, minha coluna e minhas pernas doem, já não tenho mais a mesma disposição de antes, a sensação de cansaço é sempre maior, e subir uma simples rampa já me deixa ofegante.
Minha autoestima está muito baixa, costumo associar todas as decepções e problemas da minha vida ao excesso de peso, principalmente, porque aprendi, desde muito cedo, que as pessoas magras são mais valorizadas do que as gordas, independente de seu caráter. O gordo é visto pela sociedade como uma pessoa relaxada, que não se cuida, não se importa com sua aparência e preguiçoso. Por melhor pessoa que o gordo seja, sua imagem está sempre comprometida por causa de sua silhueta. Tudo para a pessoa com excesso de peso é mais difícil:
- Comprar roupas é tarefa quase impossível, pois as lojas só fazem roupas para pessoas que vestem, no máximo, tamanho 44; as poucas lojas que confeccionam roupas para os gordos pensam que temos mau gosto, pois fazem peças que nem nossos avós usariam, de tão feias e largas;
- Os relacionamentos interpessoais são muito mais complicados, pois, conforme o ditado popular: “a primeira impressão é a que fica”, e as pessoas sempre têm más impressões de pessoas acima do peso. Desfazer essas impressões é algo trabalhoso e desagradável;
- Se os gordos não forem bons de lábia, com certeza não conseguem ter relacionamentos amorosos, pois a aparência, hoje em dia, é quesito fundamental para se dar bem no amor. Conheço muitas pessoas magras e bonitas que nunca fizeram um esforço sequer para conseguir parceiros, em compensação, não conheço um gordo que não tenha problemas afetivos exatamente por ser gordo;
- Se houver um gordo e um magro com as mesmas competências profissionais, concorrendo à mesma vaga de emprego, com certeza o magro será escolhido. E mesmo que as competências do magro sejam um pouco inferiores às do gordo, a empresa ainda pensará muito bem qual dos dois escolherá;
- Gordos não são compreendidos, são apenas conhecidos como “aqueles relaxados que não se importam com sua aparência e saúde”;
- Gordos são discriminados, são motivo de piada em todo lugar que vão e com quem quer que estejam;
- As crianças aprendem desde cedo a debochar de outras crianças gordas;
- Os gordos são “ótimos amigos”, mas não servem para um relacionamento afetivo, na opinião da maioria das pessoas;
- Gordos são tratados como pessoas sem sentimentos;
- Os gordos não são respeitados pelo que pensam ou pelo que falam, são julgados pela quantidade de espaço que ocupam ao sentar-se;
- Ninguém mais se importa com nível de inteligência, cultura e simpatia: se você tiver um IMC até 25 (lembrando que, quanto menor o IMC, maior o seu valor), tem chances garantidas no mercado de relacionamentos, independente de ser uma boa pessoa ou um completo imbecil.
- Os imbecis magros e bonitos são mais valorizados que os gordos inteligentes e agradáveis;
- O amor, atualmente, é medido pelo tamanho da sua cintura e a dureza da sua bunda;
- Não há espaço para pessoas com sobrepeso. Você não vê gordos na televisão, em catálogos de moda, em revistas. O mundo foi feito para pessoas magras;
- É um absurdo para a sociedade uma pessoa magra ser abandonada por seu namorado(a); já os gordos, não. Existe até uma teoria já pré-definida: abandonou você por causa do seu peso! Como se ser gordo fosse crime ou mudasse a pessoa que você é.

Como alguém que sente dores pelo corpo todo, não consegue comprar roupas, vive ouvindo piadinhas desagradáveis e comentários maliciosos, e têm dificuldades em respirar pode ter qualidade de vida?
Tenho pensado muito nisso ultimamente. Gostaria de ser feliz e me aceitar exatamente como sou, mas, infelizmente, não consigo, desde criança sou complexada por causa do meu peso, e acho que chegou a hora de tomar uma atitude por mim. Eu vou me esforçar para chegar ao meu peso ideal, vou trabalhar a minha mente para mudar meus hábitos alimentares. Preciso reconstruir minha autoestima há muito perdida e tenho certeza de que este é um dos passos mais importantes para esse caminho.
Preciso fazer uma redução no estômago do meu cérebro!


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