Objetivo

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Busque seu lugar ao sol, mãe

Tenho pensado muito na minha mãe nos últimos dias, no quanto ela abriu mão da própria vida para ajudar outras pessoas a viver as suas.
Vou explicar: tenho uma sobrinha de 14 anos, fruto de um relacionamento da adolescência do meu irmão (hoje com 34 anos) e uma menina de 15 (hoje com 29 e mais três filhos fora ela, todos de outro homem). Quando minha sobrinha ainda era um bebê (tinha, mais ou menos, a idade do meu filho), a mãe dela abandonou o lar e foi viver com outro cara, deixando meu irmão e a filha. Meu irmão, sem ter para onde ir, pois morava em um quarto e cozinha nos fundos da casa de uma tia dela, foi acolhido novamente por meus pais, dessa vez com a filha junto.
E minha mãe cuidou dela maravilhosamente bem, diga-se de passagem, por alguns meses, até a mãe voltar para informar que já estava com a vida estruturada e podia levar a filha com ela. Como minha mãe sempre partiu do princípio de que os filhos devem ficar com os pais, entregamos a criança sem maiores escândalos e a víamos em finais de semana alternados.
Quando a menina estava com seis anos de idade, a mãe dela deixou-a novamente em minha casa, alegando que ambas (ela e a filha) estavam sofrendo maus tratos do padrasto da menina e que ela não suportava mais aquela situação, mas não tinha condições de fugir com os filhos.
Meus pais novamente receberam a menina e cuidaram dela como se fosse uma filha. Nesse meio tempo, descobriu-se que, além de maus tratos, ela estava sofrendo também uma série de abusos de ordem sexual (graças a Deus não houve estupro, mas eram atos que traumatizaram a criança). Meus pais lutaram por ela com unhas e dentes na justiça, até conseguirem a tutela dela. Minha mãe abandonou o emprego para cuidar dela, que vivia efetivamente em nossa casa há oito anos.
Desde os seis anos de idade, ela dá problemas na escola. Aliás, ela cria problemas em todo lugar que vai, porque foi assim que aprendeu a viver até vir morar conosco. Minha mãe lutou bravamente para ajudá-la, minha mãe perdoou mil erros, meu pai pagou psicólogo, fizemos terapia em grupo, ela tinha tudo o que queria, era a "menina dos olhos" dos meus pais, teve muito amor, carinho e um lar bem equilibrado.
Já contei em um post aqui, não muito antigo (mais ou menos no início de março), que ela fugiu de casa com um namoradinho que não vale o que o gato enterra, quase matou todos nós de preocupação (minha mãe foi para o hospital com a pressão 18x12 e meu irmão teve uma febre de 40 graus e precisou ser hospitalizado - até hoje a tal febre não foi explicada) e, mesmo assim, meus pais a perdoaram e a mantiveram lá em casa, mesmo sob os protestos meus e da minha irmã.
Briguei muito com a minha mãe por causa desse assunto, pois fiquei tentando alertá-la a respeito do quanto ela ainda pode sofrer se continuar com essa menina dentro da nossa casa. Não que eu deseje mal è minha sobrinha, de forma alguma, apenas acho que pessoas que não sabem conviver com as regras de uma casa, devem se retirar dela ao invés de ficar enchendo a paciência dos outros. Eu também cometi erros, aliás, todo mundo comete, mas esse não é o assunto em questão. O problema não são os erros, e sim o fato de que uma menina de 14 anos, que mal saiu da infância, está se sentindo adulta, esqueceu-se completamente do que é limite e está quase enlouquecendo meus pais, que já não são mais tão jovenzinhos, e não podem ficar vivendo grandes emoções.
Após muitas discussões, decidi que não falaria mais sobre esse assunto com a minha mãe, mas alertei-a sobre o fato de que os problemas com a menina só iam aumentar daquele dia em diante, pois a linha que foi cruzada a partir do dia que ela fugiu não tem mais volta.
Mas a minha mãe pagou para ver... anteontem, minha mãe recebeu um telefonema da escola, informando que a menina estava matando aula dentro da escola, com mais três meninos.
Minha mãe foi até lá buscá-la e, ao chegar em casa, já transtornada, foi dar uns tapas nela (a vez em que ela fugiu, nada aconteceu a ela por parte dos meus pais. Eu dei uma surra nela em um momento de revolta, quando a vi fazendo chantagem psicológica com a minha mãe, que não pode passar raiva porque sua pressão sobe) e teve uma surpresa imensa quando ela REVIDOU. Sim, vocês, infelizmente, não leram errado: ela partiu para cima da minha mãe, com o intuito de AGREDI-LA. Ela não mora mais em nossa casa desde ontem, minha mãe finalmente decidiu colocar um ponto final na tortura, e a entregou a seu pai, que é o meu irmão.
Estou chocada, embasbacada, perplexa, sem palavras. Meus pais criaram essa menina, tiraram-na do lixo, de uma situação degradante, e deram a ela uma nova chance para uma vida digna e limpa. E foi isso que eles tiveram de recompensa. A ingratidão.
Eu amo minha mãe. Temos nossos desentendimentos, discussões, ora bobas, ora graves, mas ela é minha mãe, cuidou de mim com todo o amor que tinha no coração, e eu não admito que ninguém a machuque ou sequer a ofenda. Minha sobrinha quebrou todos os limites do que é ético e sano. Não dá para tolerar.
Estou contando esta história para chegar no ponto-chave da história: eu olho para minha mãe e sinto pena dela. Hoje, já com 51 anos, ela não fez absolutamente nada por ela mesma. Viveu em função dos filhos e do marido. Agora que os filhos estão grandes, criou uma neta e está ajudando a criar outro, que é o meu filho. Cuida sozinha de sua mãe idosa. Não tem empregada. Concluiu o ensino médio através de supletivo. Não fez uma faculdade, um curso de inglês, não se realizou profissionalmente. É uma pessoa frustrada, é uma dona de casa que queria ser executiva, é um talento desperdiçado, vive uma vida medíocre ao lado do meu pai, que depois de velho, decidiu tornar-se alcoolatra.
Vendo ela assim, tão triste e tão frustrada, eu continuo me perguntando: por que ela não se liberta das correntes e vai buscar sua liberdade? Por que ela não luta para ser feliz pelo tempo que lhe resta? Por que ela não larga todos nós e vai viver sua vida, fazer tudo o que sempre quis? Por que ela não ousa, ela não luta, ela não crê em si mesma?
Eu torço muito para que ela consiga um dia encontrar um caminho que a faça feliz, e que possa trilhá-lo, porque eu a amo e tenho certeza de que ela merece viver essa experiência, ser ela mesma e não se importar com o resto do mundo, colocar-se em primeiro lugar.

Que Deus a proteja.

3 comentários:

Anônimo disse...

Taia, Taia, Taia...
Sua mãe é uma mulher de muito valor!!!!
Sempre tentando proteger as pessoas q ama, abrindo mão de sua vida por elas, ou então sempre escolhendo viver a vida por esse amor!!!
Ela não retoma a vida dela, não "vai se realizar",pois preferiu o amor, e vai saber tbém se esta não foi justamente sua melhor escolha? Deprimente e revoltante, realmente é a postura de sua sobrinha, menininha ord... (desculpe) agredir sua mãe, merecia outra surra!!!! Uma parte da culpa pode ter sido dos seus pais por achar q compensariam os abusos da menina com afeto irrestrito, mas o grande culpado de ter chegado a esse ponto com certeza é o seu irmão q não assumiu a posição de pai e aceitou comodamente a boa vontade de seus pais de cuidarem da neta, delegando assim toda a responsabilidade inerente a ele genitor, independente da mãe da garota ser uma omissa.
Sabe faculdade, não é tudo.
Sou formada em Direito e antes de me formar (depois do falecimento da minha vó e 1º infarto de meu pai) descobri q não queria aquilo pra mim, além do que, as vezes satisfação profissional não garante felicidade, e é tão dificil vc graduar-se e já estar inserida no mercado...
Enfim, talvez sua mãe possa ter cometidos enganos por amor, mas se ela tem uma qualidade enorme e tão escassa é a da doação, provedora, não medir esforços em nome de uma vida... fico tão triste qdo vc diz sentir pena da sua mãe... me incomoda tanto, pois se tem um sentimento que abomino é a pena... Sou orgulhosa por isso, nunca na minha vida quero q sitam pena de mim, é um sentimento que só permito q eu mesma dedique a mim, mais ninguém, pois é um dos mais degradantes, sentir pena não oferece nada de bom, não complementa, não intercede, não acrescenta nem tira, é como ver um filme q não presta-se atenção... até o ódio é um sentimento em movimento, a pena é estagnada...
Mude seu olhar Taia, ou melhor aprenda a ver as coisas por outros angulos... Sabe, antes eu queria ser tudo, menos como minha mãe, hoje, depois q me casei, tenho minha vida, minha casa, estou por minha conta e risco...sinceramente, espero conseguir ser um décimo do que é minha mãe e meu pai, pois só agora consegui enxergar como são generosos, como são superiores em todos os aspectos em relação a minha pessoa, podem não ter o vocabulário rebuscado que se quiser eu posso usar, ou a cultura que angariei com estudos, habilidade no computador... meu pai sequer completou o primeiro grau, minha mãe só foi voltar pra faculdade quando completei 16 anos pois ela parou qdo engravidou e teve que enfrentar um marido que não queria q ela estudasse, e tres filhos adolescentes, além das tarefas domesticas e de dar aulas num período... Descobri que não quero ser mais uma juiza como outrora, quero ser uma mulher de verdade como minha mãe e um ser humano completo como meu pai, ambos com defeitos e qualidades, e amor, muito amor... quero coisas q o dinheiro não compra, família, união, não me arrependo de minhas escolhas pois sou eu q as faço e quero ser feliz e ter filhos e ensiná-los como meus pais me ensinaram pelo exemplo que para ser feliz não é preciso muito.
Sempre q venho aqui falo demais... queria te dar um abraço e dizer pra vc hoje, qdo chegar da faculdade, abrace sua mãe e aprenda a ver a grandeza dela através dessa imagem distorcida q vc faz da sua mãe.
Bjos e fique com Deus.

kryka disse...

Desejo força pra sua mãe,que supere esse problema.

Anônimo disse...

Olá Taia!
Hoje, navegando 'á toa' pela internet, me deparei com o seu blog, e com a historia da sua mãe. Incrivel, mas vejo a mesma coisa dentro da minha casa, tenho muita pena da minha mãe, vejo a falta de carinho com a qual meu pai a trata, sempre cobrando 'comida feita, casa limpa, td em ordem, e nunca ajudando a pobrezinha. Ela cuida tambem do meu filho, não sei como aguenta dar conta de tantas coisas. É uma guerreira, mas acho que até os fortes um dia caem, etenho medo de quando essa hora chegar. Espero que a minha, e a sua mãe, recebam sempre essa força que Deus lhes dá pra suportar o dia a dia de cada uma, porque se fosse comigo eu não sei se suportaria. Um beijao, tudo de bom pra vc e pra sua familia!