Objetivo

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sobre o amor

(Cristiana Guerra - texto retirado do blog parafrancisco.blogspot.com)

Quando nasce um amor novo, é difícil resistir à tentação de alimentá-lo só com a presença. Mas é preciso deixar o amor respirar. Se você colocar uma flor bem bonita dentro de uma redoma, com medo que o vento e o tempo levem sua beleza, manterá por muito pouco tempo o que dela é bonito.
O que eu aprendi sobre o amor, filho, é que ele é feito de faltas e presenças. E que nenhuma das duas pode faltar.
Aprendi que o amor é feito de liberdade. É como ter, todos os dias, muitas outras opções. E ainda assim fazer a mesma livre escolha.
Dessas pequenas vitórias se faz a alegria de amar e ser amado. Descobrir no olhar do outro que você foi escolhido de novo. E de novo, mais uma vez.
Também aprendi que o amor interrompido em seu auge permanece bonito para sempre. O que pode ser muito doído ou pode ser um presente. Depende de como a gente quer guardar. Depende de como a gente quer seguir.
O amor é feito de falta, filho. Mas aí mora um perigo: adorar mais a falta que o próprio amor. Posso cometer esse erro diante de quem amo ou diante da própria falta. E aí quem passa a faltar sou eu mesma.
O amor é feito de falta, mas não sobrevive sem a presença. O amor é feito de hoje.
Por isso, ao ver a ida do seu pai, meu coração deu um nó. Como continuar minha caminhada, como não olhar para trás, se vinha de lá a nova presença, o novo amor?
Você é feito do amor de ontem, cresce amor de hoje e vai ser amor de amanhã. Você me trouxe a alegria de continuar amando o seu pai. Aquele que conheci, com quem vivi cada hoje com intensidade e delicadeza. Aquele por quem lutei, com quem briguei. Aquele que me transformou e que se deixou transformar por meu amor. Você e ele, juntos, me trouxeram o milagre de continuar amando a mim mesma. A falta do seu pai doeu ontem e dói ainda hoje. Mas não é a mesma dor. Com esse amor, tento transformar a dor de hoje em uma dor diferente amanhã. O que aprendi sobre o amor é que ele deve estar sempre distraído. Mas quando falta o objeto do amor é o contrário: melhor não se distrair nunca.
O que aprendi sobre o amor - e isso aprendi sobre o amor a mim mesma - é que ele exige de mim, todos os dias, um esforço. Um exercício diário do qual não posso abrir mão. É como estar num mar profundo, sem barco ou bóia. Não posso simplesmente boiar. Posso relaxar um pouco, mas logo retomo o nado. Não posso boiar, não posso, não posso. A onda pode me levar.
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Poderia dizer muitas coisas sobre este texto, mas acho que não há a mínima necessidade. A autora dele é extremamente sábia com as palavras, e com a sua própria história de vida descreve muitas vidas que têm vivido por aí sem saber se descrever. Descobri este blog em um momento muito oportuno da minha vida, esta mulher é um exemplo de força, garra e coragem, perdeu o namorado, pai de seu filho, a dois meses do nascimento do bebê e foi obrigada a lidar com a dor da morte do homem que ama e com a alegria de receber o filho que foi concebido junto com ele, com muito amor e com a certeza de uma felicidade juntos que, infelizmente, não veio. A sua força, a sua serenidade e o seu amor pela vida são exemplos que devem ser seguidos por todos nós. Reclamamos tanto da vida e achamos nossos problemas tão grandes, para de repente deparar-se com problemas ainda maiores que os nossos e ver que somos premiados pela vida, às vezes sem sequer perceber.
Nota-se que ela viveu um amor muito intenso com o pai de seu bebê e, eu não encontrei outra descrição de amor tão verdadeira como esta que ela escreveu e que eu estou postando aqui no blog. O que mais me doeu foi perceber que eu não sou a escolhida do meu amor entre as tantas outras coisas que existem...
Eu sinto a mesma solidão desta mãe e mulher, embora as circunstâncias sejam diferentes...

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