Objetivo

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Uma cena de amor tão comum...

Ela, uma romântica incorrigível e sonhadora ao extremo, era completamente por ele, divertido e popular, mas frio e fechado sentimentalmente.
O namoro aconteceu e durou dois anos. Foi um tempo difícil para ela, que sempre teve que lutar por tudo o que queria ao lado dele, já que ele, do alto de sua frieza que às vezes até se confundia com arrogância, não se importava com nada que envolvesse os dois, mas também foi um tempo de muita felicidade, pois ela esforçou-se tanto que conseguiu, por um certo tempo, amolecer o coração dele e tirar de lá sentimentos que nem ele mesmo sabia que existiam lá. Ela foi mais que uma namorada: era a melhor amiga, companheira, mãe, irmã, amiga, amante, psicóloga, enfim, movia céus e terras por qualquer coisa que soubesse que traria a ele um minuto que fosse de felicidade e satisfação. Ele, embora uma ótima pessoa, querido por quase todos que o conheciam, nunca moveu uma palha por nada que tivesse a ver com o relacionamento dos dois. Muitas vezes dava até a impressão de que para ele tanto fazia estar ao lado dela ou não. Mas ela era apaixonada demais para se importar com isso, e era capaz de dar a vida pela felicidade dele. Era tão fiel que mal olhava para os lados, sequer reparava outros homens na rua.
Mas, mesmo assim, o relacionamento terminou. Ela foi bombardeada pela terrível notícia e por mais um milhão de mentiras e omissões que ela não conseguia compreender. Ainda pior que a traição física, foi a traição que ele cometeu com os sentimentos dela e com a jura que os dois fizeram de sempre ser sinceros. A dor doía tão forte nela que a única saída que ela via para o fim de tudo era a morte, pois acreditava ser incapaz de viver sem ele. Não se pode dizer que ela não viveu sem ele, afinal, ela está viva e respira, no entanto, não existe apenas a morte em que se deixa de respirar. Existe também a morte em que se deixa de sonhar e acreditar, a morte em que toda a vida perde o sentido e todas as coisas perdem a graça: essa é a morte em vida. E ela morreu para o mundo, mesmo respirando e tendo um coração pulsando no peito.
Mas ele foi embora sem ir totalmente, pois a cada oportunidade da vida os dois deixavam o sentimento inexplicável que os unia falar mais alto e seus caminhos voltavam a se encontrar quase que magicamente.
E ela perdeu mais e mais tempo de sua vida, de seus sonhos e de seus esforços tentando corrigir algo que não tinha correção, tentando escrever sentimentos em um coração que não fazia a mínima questão de sentir nada daquilo.
Ela lutou incansavelmente, com todas as forças que tinha e até com as que não tinha, até que, finalmente, abriu os olhos para uma dura e triste realidade, mas que era a única coisa de sua vida que era real naquele momento: ou arrancava aquela dor do peito, ou a dor a arrancaria de vez de sua própria vida. E então, ela desistiu. Saiu de fininho, batendo a porta, deixando seu último bilhete de amor e levando consigo todo aquele infinito amor e toda a dor de não ter sido correspondida. Passou a amar em silêncio e à distância. E ele nem percebeu. Os dias se passaram e ele nem viu que ela havia partido. Apenas se deu conta de seu adeus após ler o bilhete que estava sobre a mesa da cozinha. Ele riu daquelas palavras e, em pensamento, a chamou de dramática, convenceu-se de que ela estava fazendo tudo aquilo para chamar a atenção e que, mais dia, menos dia, a porta se abriria novamente e ela entraria carregando o mesmo amor de sempre por ele nos braços. Mas ela nunca mais voltou. E no dia em que ele percebeu e acreditou realmente que ela nunca mais voltaria, e que já não havia modo de encontrá-la nesse mundo, pois ela havia se tornado um anjinho na imensidão do céu, então ele chorou.
As pessoas a seu redor tentavam consolá-lo e diminuir o remorso que ele sentia, dizendo que ela havia partido amando-o e que agora olhava por ele, e que o importante era que ele tinha certeza de que ela o amava, e que aquele amor que ela sentia ecoaria pela eternidade.
Com lágrimas nos olhos e uma ferida incurável, no coração, ele respondia sempre a mesma coisa, e respondeu isso por todos os anos de sua vida, mesmo que em silêncio:
- O problema não é eu saber que ela me amava, pois isso eu sempre soube; o problema foi ela ter partido sem saber que eu sempre a amei, porque talvez nem eu mesmo soubesse...

Quando demoramos muito para corrigir um erro, talvez depois fique tarde demais para que possamos fazer qualquer coisa...

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