Objetivo

sábado, 31 de maio de 2008

Incômodo

Tenho procurado palavras para descrever a sensação que tem me invadido com freqüência ultimamente, mas, por mais que eu tente explicar, não encontrei palavra melhor, embora não muito aplicável ao conceito, que incômodo.
Sabe aquela sensação de que a roupa está apertada? Aquela impressão de que o sapato é menor e amassa os dedos? Que o cabelo está despenteado? Que o coração não cabe dentro do peito?que a alma está desgrudando do corpo?
E o problema maior é que nada do que é sentido condiz com a realidade. A roupa é do tamanho certo. O sapato é exatamente do número que se calça. Os cabelos estão limpos e penteados. O coração continua batendo no peito normalmente. A alma permanece no seu devido lugar...
O que fazer com este incômodo?Comprar uma roupa ainda maior? Trocar de sapatos? Cortar os cabelos? Calar o coração? Deixar a alma partir de uma vez por todas?
Eu já nem tenho palavras de amor e nem de dor para dizer, o silêncio envolveu-me em seus braços e já não me deixa mais, tudo o que um dia eu quis dizer, hoje eu já nem sei mais...
Incômodo nada mais é do que estar desconfortável, estar fora do seu ambiente de costume. Eu acho que a minha alma está perdida no meio de um imenso caos...

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Algumas pessoas simplesmente não se importam


A frase é bastante conhecida: “Não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam”. Faz parte do texto “Um dia a gente aprende”, de William Shakespeare e eu confesso que, desde que li este texto pela primeira vez, penso muito nele e concordo com cada vírgula que está li. Eu poderia escrever sobre qualquer frase desse lindo texto, que vale muito a pena ser lido, mas escolhi esta em especial porque, na minha opinião, é a frase mais forte e mais certa contida nele, e explica muitas coisas que sentimos em relação a outras pessoas.
Algumas vezes, convivemos com pessoas que, por mais que façamos por elas, estas são incapazes de valorizar as nossas atitudes, e acabam até machucando o nosso coração. Neste momento, nos sentimos completamente perdidos e ficamos fazendo aquela insistente pergunta: “aonde foi que eu errei?”. Muitas pessoas (eu, por exemplo) têm o terrível hábito de acreditar que são culpadas por todas as coisas ruins que acontecem em suas vidas e ao seu redor, sem perceber que nem sempre quando somos feridos por alguém significa que fomos nós que fizemos algo que a levasse a isso. Na maioria dos casos, é a própria pessoa, por livre e espontânea vontade, que decide agir de tal maneira, simplesmente porque ela não se importa nem um pouco com você, por mais que você se importe com ela e queira sempre o melhor. Mas isso também não significa que esta pessoa não te ama. Pode significar apenas que ela não tem maturidade o suficiente para reconhecer os atos de amor e entrega que são dedicados a ela.
É uma dura e fria realidade. É claro que não fazemos as coisas pensando em retorno, mas esperamos pelo menos um mínimo de consideração por parte do outro. Mas essa consideração muitas vezes não vem. Algumas pessoas simplesmente são incapazes de enxergar e dar valor às atitudes das pessoas que as amam e, como se isso não bastasse, ainda ferem de morte as pessoas que elas mesmas mais amam, mas talvez ainda não tenham se dado conta disso.
Cada pessoa tem a sua própria maneira de amar, e não podemos dizer qual é a maneira certa e qual é a errada, afinal, não existe certo e errado em um mundo com tantas pessoas diferentes, de gênios tão diversos e que carregam dentro de si os mais variados medos e traumas, que influenciam diretamente na maneira de ser, pensar e agir, por isso não se importar não significa não amar, não querer perto, desprezar. Muitas vezes, só damos valor às coisas quando já é tarde demais, quando o tempo já passou, quando a pessoa amada já partiu ou quando a situação já está crítica demais para ser solucionada. Isso é uma atitude normal do ser humano, alguns fazem com mais freqüência, outros com menos, mas todos nós, pelo menos uma vez na vida, já agimos dessa maneira. As experiências de vida nos fazem perceber, cada dia um pouco mais, que devemos aprender a agradecer e a expressar os nossos sentimentos às pessoas que nos cercam, pois um dia elas não estarão mais lá e nós simplesmente perderemos o que pode ter sido a última chance de dizer um “eu te amo”.
É muito difícil dar o melhor de si e não esperar nada em troca, afinal, acreditamos que o nosso melhor merece um reconhecimento, pois só nós sabemos o esforço necessário para dar esse melhor, mas, infelizmente, e isso é um fato que não há como mudado, encontraremos por nosso caminho pessoas que amaremos muito, que moveremos céus e terras por elas e estas simplesmente agirão como se nada estivesse acontecendo, como se não estivessem vendo nenhum dos nossos esforços. Algumas destas pessoas acordarão para a vida em tempo hábil, darão valor às suas atitudes e, provavelmente, caminharão ao seu lado por muito tempo; outras continuarão cegas diante da realidade, e só se darão conta de tudo o que você fez e significou para elas quando você já tiver partido, quando já for tarde demais para te reencontrar. Não importa qual tipo de pessoa você encontrará pelo seu caminho, o que importa mesmo, é que quando realizamos boas ações sempre somos lembrados e valorizados, independente do tempo que isso demore, mesmo que você nunca saiba e nem veja, a pessoa um dia vai se lembrar de você, vai sentir saudades e vai perceber o quanto você a amou. Tudo nessa vida é uma questão de tempo, pois é o tempo que nos traz as experiências e a maturidade. Às vezes somos adultos, mas agimos pior do que crianças mimadas, mas, acredite, só fazemos isso para nos defender dos nossos próprios fantasmas.
O mais importante de tudo é dar o nosso melhor sempre, e não importa se o outro não se importa, o que realmente importa é que você se importa, e tudo aquilo que se faz com amor e entrega verdadeiros, volta para nós como créditos de felicidade.

terça-feira, 27 de maio de 2008

O caminho que não leva a nada

(Rubem Alves)
Era uma tarde fresca. Estávamos assentados à sombra de um flamboyant na casa do meu primo Tatão, lá em Boa Esperança, jogando conversa fora. Gozado, pela primeira vez essa expressão “jogar conversa fora” chamou a minha atenção. Joga-se fora aquilo que não é para ser guardado. Não se diz “jogar conversa fora” de conversas de negócios entre executivos. Nas conversas de executivos nada é para ser jogado fora. Cada palavra vale dinheiro. Jogar conversa fora é uma brincadeira parecida com soprar bolhas de sabão. As bolhas de sabão são de curta duração. Mas são tão divertidas... Vão-se umas, sopram-se outras. Nietzsche e Alberto Caeeiro faziam filosofia e poesia contemplando as crianças entretidas nessa brincadeira. Quando jogamos conversa fora voltamos a ser crianças: sopramos bolhas com palavras, bolhas que serão logo esquecidas. Pois é. Lá estávamos nós quando, de repente, comecei a sentir um cheiro que me levou para dias da minha infância. A imagem que aquele cheiro me trouxe era tão doida que eu não disse nada. Achei que iriam se rir de mim. Foi quando uma das filhas do Tatão interrompeu a conversa e disse com aquela música pachorrenta do falar mineiro: “Uái, gente, que cheiro de quando estão matando porco...” Ah! Era isso mesmo que estava na minha cabeça. De alguma forma aquele cheiro me levou de volta a uma cena que estava enterrada na minha memória. Quando se mata porco há um cheiro característico: da lenha, do porco morto sendo chamuscado no fogo, do couro do bicho sendo amolecido pela água fervente.
Assim são as imagens poéticas: elas têm o poder de ir lá no fundo da alma, onde moram os esquecimentos. E quando um desses esquecimentos acorda, a gente sente um estremeção no corpo. Essa é a missão da poesia: recuperar os pedaços perdidos de nós.
Pois isso está acontecendo comigo agora, estou sendo visitado por uma imagem emissária do meu passado. Ela me aparece e eu me comovo. Se me comovo é porque eu me pareço com ela. É a imagem de um caminho. Haverá alguma razão para esse aparecimento? Acho que sim. Vou completar 71 anos. Olho para trás, olho para frente... Vejo o meu caminho...
Tenho, na minha pequena sala de estar, uma tela grande, pintada pela. Marli, mãe da Thais: um caminho no meio da mata. Não se sabe para onde vai porque ele desaparece numa curva. Eu recebi essa tela de presente, depois que da. Marli ficou encantada. Eu me assento no sofá e fico olhando para ela – coisa que não faço com famosas reproduções de Dali e Brueghel. O caminho me faz pensar. Pensar sobre mim mesmo. Penso sobre o caminho que trilhei. Penso sobre o caminho que trilharei, depois da curva...
Sinto o que disse Robert Frost num dos seus poemas: “Duas trilhas bifurcavam num bosque de outono, e eu, viajante solitário, triste por não poder andar por ambos, por longo tempo lá fiquei olhando até onde desapareciam na folhagem. Duas trilhas num bosque bifurcavam e eu – eu fui pela menos pisada, e isso fez toda a diferença”.
Acho que eu fiz o mesmo: preferi sempre a trilha onde poucos andavam. Desde menino eu amei estar sozinho. Gostava de ficar só com os meus pensamentos. Lembro-me do sobradão colonial do meu avô onde passava férias. Eu acordava – todos estavam ainda dormindo – vestia-me e, silenciosamente, para não despertar os adultos, caminhava pelo corredor onde estava o meu quarto, atravessava a sala de jantar, entrava num outro corredor que conduzia à sala de visitas, tomava a escada, eram três lances até o térreo, entrava num corredor que conduzia à enorme porta de entrada da casa, fechada com barras de ferro. Eu retirava as barras, abria a porta, e saia. O sol estava começando a nascer. Lá estava a praça quase deserta com suas tipuanas, ipês e palmeiras. Assentava-me então num banco e ficava ouvindo longamente o canto dos pássaros pretos, sozinho.
A trilha menos pisada é a trilha dos hereges, dos bufões, dos poetas, dos profetas. Esses foram sempre meus melhores amigos. T.S. Eliot tem um aforismo que diz: “Numa terra de fugitivos quem anda na direção contrária parece estar fugindo.” Não sei se a minha era uma terra de fugitivos. Só sei que desde pequeno eu andava ao contrário. Lembro-me de quando vivi numa cidade do interior de Minas onde todo mundo era católico. Eu era protestante. Quando o padre com suas vestes negras chegava ao Grupo e chamava as crianças para a confissão eu tinha de me levantar e dizer: “Eu não vou...” E assim tem sido, através da minha vida. Nunca consegui pertencer a um rebanho fosse qual fosse o seu nome: igreja, clube, partido, escola de pensamento, grupo profissional.
Agora, faz poucos meses, fiquei conhecendo o poeta José Régio. Vou transcrever alguns trechos do seu poema “Cântico Negro”. “’Vem por aqui’ – dizem-me alguns com olhos doces, estendendo-me os braços, e seguros de que seria bom que eu os ouvisse quando me dizem: ‘Vem por aqui’! Eu olho-os com olhos lassos, ( há nos meus olhos ironias e cansaços) e cruzo o braços, e nunca vou por ali. Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos... Se vim ao mundo, foi só para desflorar florestas virgens e desenhar meus próprios pés na areia inexplorada! O mais que faço não vale nada.Ide!Tende estradas, tendes jardins, tendes canteiros, tendes pátrias tendes tetos, e tendes regras, e tratados, e filósofos e sábios. Eu tenho a minha Loucura! Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura, e sinto espuma, e sangue e cânticos nos meus lábios... Ah, que ninguém me dê piedosas intenções! Ninguém me peça definições! Que ninguém me diga: ‘vem por aqui’! Não sei por onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí!”
Mas há uma contradição que bem percebo. Não vou pelos caminhos dos outros. Mas ao escrever eu não estarei convidando os que me lêem a seguir o meu caminho? Como se eu lhes dissesse: “Vem por aqui!!” Não, não, não! Não quero transformar minhas caminhadas solitárias em procissões ou comícios. Não quero seguidores. Quero continuar a caminhar sozinho. É bom caminhar sozinho. E o caminhar sozinho não faz caminhos para os outros. O meu caminho é só meu. “Caminhante, não há caminhos”, dizia Antônio Machado. “Os caminhos se fazem ao caminhar...” Cada um tem de fazer o seu próprio caminho. A alma é o caminho. É preciso encontrar esse caminho. Estranho, porque é um caminho que não leva a nada. Mas os cenários à beira do caminho são maravilhosos. Assim, só posso repetir o conselho de D. Juan, o bruxo: “Todos os caminhos conduzem ao mesmo fim. Escolhe, portanto, o caminho do amor”.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Se cada um fizesse a sua parte...

A princípio parece ser muito simples, e muitas pessoas acham que sabem o que significa isso, mas no fundo não sabem, e não é tão simples assim como deveria ser.
Imagine a cena: você trabalha em uma empresa com vários funcionários divididos em vários setores. Cada um tem sua função específica, e o bom andamento do seu trabalho depende das ações de algumas outras pessoas de outros setores. Entretanto, algumas dessas outras pessoas das quais você precisa e depende não são muito colaborativas, não estão muito a fins de trabalhar e não se importam nem um pouco se essa atitude prejudicará ou não os demais ao seu redor, por isso simplesmente fingem que não têm nada a ver com o assunto e, por não fazerem a sua parte, acabam atrapalhando o resultado final do trabalho. E, é claro, se você é o responsável por este trabalho, independente de você ser o causador ou não do problema, obviamente a bronca vai sobrar para você.
Cada pessoa nesse mundo desempenha um papel em cada área da sua vida e em cada um desses papéis precisamos fazer a nossa parte, para que o processo aconteça, para que não fique nada parado nas mãos de ninguém, aguardando a atitude que deveríamos ter tomado, mas não tomamos sabe-se lá por que, mesmo sabendo que deveríamos tomá-la.
Ninguém consegue viver sozinho. Querendo ou não, dependemos de outras pessoas para que algumas coisas caminhem, e se a pessoa da qual você precisa não colabora, como é que as coisas saem?
Se cada um fizesse a sua parte, o mundo seria um lugar muito melhor para se viver, pois juntando a parte de cada daria um todo perfeito. Mas, não. As pessoas acabam se contaminando pelos maus pensamentos, aliás, isso chega a ser até engraçado: as atitudes boas não inspiram ninguém, mas as ruins carregam multidões consigo: se o fulano não faz tal coisa, por que eu vou fazer? Se todo mundo joga lixo na rua, não é o meu papel de bala que vai fazer a diferença na enchente. Mas o problema é que faz. Cada pessoa que negligencia algo por acreditar que já que ninguém faz a sua parte, ela também não vai fazer, está prejudicando um setor, uma família, um amigo, um sentimento, um país, uma nação, pois a sua parte é uma parcela do todo, e essa parcela faz muita diferença no resultado final.
Se eu disser que não desanima olhar para o lado e ver que o outro não faz a sua parte e não ter vontade de desistir, é mentira. A falta de comprometimento do outro causa revolta em nós, pois, com certeza, se ele não faz a sua parte, teremos que fazer a dele e a nossa se quisermos que as coisas andem, e se fazer a nossa parte já é difícil, imagina ter que fazer a do outro também? Mas a questão vai muito além disso: não podemos simplesmente nos igualar às coisas e pessoas que criticamos. Deixar de fazer a nossa parte também por revolta ou por achar que isso é justo conosco, apenas empurrará as nossas responsabilidades para outras pessoas e, assim, estaremos agindo exatamente da mesma maneira que todas as outras pessoas negligentes. Será que é isso que queremos, ser igual àquele que tanto criticamos? Porque, pode acreditar numa coisa: neste mundo, ainda existem pessoas que, acima de tudo e de todos, arregaçam as mangas e continuam fazendo a sua parte e a dos outros que não fazem, enfrentando todas as adversidades que surgem no caminho, mas cumprindo com as suas obrigações e até mesmo com as que não são suas, em busca, sempre, de um ambiente melhor. São estas pessoas que ainda trazem consigo a esperança de dias melhores, e são essas pessoas que simplesmente fazem acontecer, não ficam sentadas se lamentando e esperando por nada e nem por ninguém. Elas simplesmente vão lá e fazem, não importa o quanto isso custe.
É muito fácil culpar os outros por não fazerem a sua parte, mas, mais difícil ainda, é não se igualar a eles e negligenciar a sua. Aliás, fugir é muito mais fácil do que lutar.
Bom mesmo seria se cada um assumisse as suas responsabilidades e seus compromissos. Mas já que isso não acontece, que sejamos capazes de fazer as coisas acontecerem, não importa como e nem quanto esforço tenhamos que fazer para conseguir. O mundo é daqueles que não desistem jamais de seus objetivos. Podem mudar a direção, mas jamais desistir!

Meu coração está esfriando

Eu sempre lutei tanto para ter o amor das pessoas ao meu redor, me entreguei de corpo e alma, passei por cima do meu orgulho, perdoei o imperdoável, calei a dor que se instalou no meu coração e hoje eu me pergunto, depois de uma longa reflexão: para quê tudo isso?
Sei lá, chega um momento em que o coração fica tão cansado de tentar que começa a esfriar, os sentimentos já não são os mesmos, a vontade de tentar já não é tão grande quanto o impulso de desistir, e eu me pergunto: aonde tudo isso vai me levar?
Eu vejo a minha vida passando, enquanto eu espero por um sorriso que nunca vem, por um carinho que eu nunca sinto na pele, por um beijo que nunca chega aos meus lábios, por um futuro que simplesmente não vai acontecer, embora seja o único plano que eu tenha para a minha vida neste momento...
Eu amo muito, amo de uma maneira que eu julgava impossível alguém amar, mas a apatia invadiu o meu coração e está se instalando aos poucos, tomando o espaço do meu desejo de tentar. Parece que há um momento em que a luta se transforma em humilhação, onde finalmente se nota que não há mais nada a ser feito senão deixar pra lá. De repente se constata de que palavras que não são ouvidas não valem a pena ser ditas e eu acho que é nesse momento que a desistência torna-se não somente uma opção viável, mas a cura para todos os males que nos acometem.
Não foi nada disso que eu desejei para mim. Não foi nada disso que eu desejei para nós dois. Eu sempre acreditei no amor, mesmo quando ele, por várias vezes, me abandonou. E quando os nossos olhares se encontraram, eu tive a certeza de que era você a pessoa certa para mim, e de que era eu a pessoa certa para você. Mas, infelizmente, o amor é como um jogo, onde se é necessário arriscar tudo em um simples palpite, e, muitas vezes, nos enganamos. E de repente é como se o silêncio fosse a única canção que meu coração queira ouvir, é como se o nosso amor fosse uma noite, e de repente o dia simplesmente amanhecesse. Não é uma tentativa de colocar a culpa em você, é apenas a constatação de que nem todas as pessoas que amam são correspondidas, e de que este amor para você nunca significou o que ele significa para mim. Hoje eu sei que para você tanto faz se eu ficar ou se eu partir. Hoje eu sei que os planos que eu fiz para nós dois não têm nada a ver com os planos que você fez para você mesmo. Hoje eu sei que por mais que eu me importe com você, você não está se importando nem um pouco comigo. Hoje eu sei que por mais que eu te ame, meu amor não é o suficiente para nós dois. Hoje eu sei que este amor que eu sinto de nada vale se você não me amar também...
Talvez seja por isso que meu coração venha esfriando cada dia um pouco mais, pois, finalmente, meus olhos perdidamente apaixonados estão tomando um rumo e enxergando que insistir em algo que apenas eu quero, não é o caminho para a felicidade.
É difícil admitir que se ama sozinho, é mais difícil ainda aceitar que a pessoa que um dia esteve ao seu lado, hoje já não faz mais questão de estar, mas talvez encarar a verdade de frente e até sofrer com ela seja o caminho para a libertação. Eu ainda não sei direito qual é o caminho certo, mas posso dizer que não é o que eu estou seguindo. As vezes deixar para lá é a única solução viável, por mais que doa. E eu simplesmente não vou mais tentar, por mais que eu te ame. De uma vez por todas, quem vai decidir é você. Quanto a mim, simplesmente aceitarei a sua decisão, seja ela qual for...

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Indignação

Acordo todos os dias às 5h25 da manhã, fico mais de uma hora dentro de um ônibus lotado para chegar ao trabalho, passo por poucas e boas em um ambiente corporativo composto por um monte de funcionários públicos que ganham muito mais do que eu e simplesmente fingem que trabalham, carrego 4 setores nas costas, ouvindo um monte de gente chamar o meu nome o dia todo e me passar os mais diversos serviços, sou cobrada o tempo inteiro, sem nunca receber sequer um elogio ou uma palavra de reconhecimento, tenho que fazer o trabalho dos outros, sou completamente ignorada quando peço ajuda, tenho que ser autodidata e vidente, além de ter nervos de aço para conseguir passar 8h24 dentro deste ambiente sem surtar, sem detalhar a parte de que, desde que coloquei os pés nesta referida empresa, há quase dois anos, jamais tive um treinamento completo e decente, tudo o que sei foi construído com a bondade e boa-vontade de uma ex-funcionária, que ajudou o quanto pôde e sem ganhar nada por isso (a pessoa em questão terá minha gratidão eterna, pois foi um anjo na minha vida) e com o meu esforço em aprender errando, buscando soluções e tentando aprender sozinha.
Como se isso não bastasse, junto todas as forças que ainda restam (que não são muitas, afinal, a desmotivação é uma doença que, quando ataca, vem para destruir tudo o que você construiu com tanta luta e esforço, pois ela tira a sua vontade de agir e você acaba negligenciando tudo na sua vida) e vou para a faculdade, que foi um sonho que nutri por muitos anos da minha vida, mas que tive que adiá-lo por causa da falta de dinheiro, e me doía cada vez que via meus amigos da mesma idade que eu no 2º ou 3º ano e não podia evitar o pensamento de que nunca chegaria lá. Mas a sorte foi minha companheira, passei em um concurso público em 2º lugar (tecnicamente em 1º, visto que o 1º lugar, com apenas 0,04 pontos de diferença de mim, não ficou com a vaga), assumi o cargo e ganhei uma bolsa de estudos como benefício. Estou no 2º ano de um curso que não é o meu sonho de carreira, mas, mesmo assim, me traz muito orgulho e me surpreende cada dia mais, tornando-se o ideal que quero seguir para a minha vida neste momento.
Todas as pessoas da sua sala têm, no mínimo, 19 anos de idade, o que subentende que são todos esclarecidos e maduros o suficiente para encarar a seriedade e a dificuldade de se fazer um curso superior. É aí que está o engano. Algumas pessoas agem igual, ou até pior, do que crianças de 8 ou 9 anos. Inclusive, vejo coisas que nunca vi alunos fazerem nem quando eu estava na 2ª série do Ensino Fundamental.
Obviamente, os professores se irritam com este tipo de comportamento, afinal, eles não passaram vários anos de sua vida estudando e se especializando para bancarem as babás dentro da sala de aula. Aliás, se eles quisessem assumir este papel, com certeza estariam dando aulas para o jardim de infância, e não adquirindo sólidos e novos conhecimentos para transmiti-los aos que, eles julgam, ser o futuro do país. Sinceramente, eu não sei e nem me interessa saber quem paga a faculdade desses indivíduos, mas devo admitir que se são os pais deles tenho muita pena do dinheiro que eles estão jogando no lixo, sem sequer imaginar que seus filhos, além de não absorverem nenhum conhecimento durante a aula, ainda atrapalham aqueles que estão interessados em aprender.
Não vou dizer que sou uma santa, pois estaria mentindo. Não vou dizer que não converso em nenhuma aula, que sou uma aluna exemplar, super estudiosa e que só tiro notas maravilhosas, pois seria tudo conversa fiada. Mas uma coisa eu posso dizer com toda a certeza desse mundo: nunca atrapalhei o ensino de ninguém. Se eu não estou afim de assistir a uma aula, se não é um assunto que desperte meu interesse eu simplesmente me retiro da sala ou nem vou para a faculdade, pois tenho essa consciência de que a minha liberdade termina aonde começa a do outro e eu não tenho o direito de incomodar os outros que estão interessados em aprender. Violar este direito do outro é ir na contramão de todas as regras de bom convívio social. Eu estou pouco me lixando se o cara acha que porque ele paga a porcaria da mensalidade, tem o direito de entrar na aula só para ganhar uma maldita presença e ficar infernizando a vida dos outros.
Eu converso durante a aula? Não posso mentir: às vezes, sim. Mas procuro respeitar ao máximo quem está ao meu lado, falando baixo. Odeio alguns professores e acho suas disciplinas insuportáveis? Sim. Mas nem por isso atrapalho a aula do cara por pura vingancinha ridícula. Eu não tenho mais idade para esse tipo de imbecilidade, e nem estou indo para a faculdade para fazer networking. Se o meu objetivo central fosse fazer amigos e me tornar popular, sinceramente iria para alguma balada na Vila Olímpia, não para um local onde terei que ficar três horas e pouco sentada numa carteira desconfortável ouvindo assuntos que muitas vezes não chamam nem um pouco a minha atenção, depois de um longo dia de trabalho estressante.
Como se isso não bastasse, por causa das atitudes imbecis de 5 ou 6 pessoas, uma sala de aula inteira paga, pois os professores se irritam com aquele pequeno grupo e acabam descontando sua raiva em todos os que estão ali, inclusive os interessados em aprender.
Aconteceu comigo ontem e, dificilmente, eu me abalo com este tipo de coisa, mas, nesse caso, não teve como: estava em uma aula de Matemática Financeira, com a HP na mão, a apostila na carteira, as folhas de fichário espalhadas pela mesa, copiando matéria da lousa e tentando entender aqueles malditos exercícios de juros compostos, povinho lá do fundo conversando e rindo em tom altíssimo, como sempre, quando surgiu uma dúvida numa passagem do exercício. Esperei que o professor terminasse sua explicação, ergui a mão, exatamente no mesmo momento que um amigo meu, e expus minha dúvida que, inclusive, era a dúvida dele também. Estávamos quietos, eu, pelo menos, não havia proferido uma palavra sequer nesta aula, justamente porque eu queria prestar atenção máxima nestes exercícios, pois na P3 que fizemos percebi que não estou tão bem nesta matéria quanto imaginava, vi que meus conhecimentos sobre juros compostos não ajudam muito, uma vez que a HP é a protagonista deste espetáculo e eu ainda não me familiarizei com ela.
O referido professor, em um tom bem hostil e debochado, disse que nossa dúvida não era problema dele, que é claro que não havíamos compreendido, já que o fundo da sala não calava a boca, falava mais que um monte de “putas velhas”. Após este show de falta de respeito e educação, simplesmente nos ignorou e voltou a explicar a matéria olhando para o pessoal que senta na frente. Confesso que na hora, o choque foi tão grande que eu não consegui responder nada, fiquei olhando para ele e me perguntando o porquê daquela atitude, já que não éramos nós que estávamos conversando. Ao final da aula, com o sangue quente, os olhos marejados e muita raiva daquela humilhação pública, fui até a sala dos professores, acompanhada do amigo que levou o carão junto comigo, questioná-lo sobre o porquê daquela atitude extremamente grosseira e desnecessária, uma vez que estávamos quietos. Com a prova dele nas mãos, que eu havia acabado de receber, mostrando uma nota 7,5, me senti no direito de saber porque fui tratada daquela maneira. Ele veio argumentando que somos bons alunos, mas que a sala estava uma zona e que nós somos responsáveis por manter os caras de boca fechada. Explicamos para ele que já se tentou de tudo dentro daquela sala, mas que essas pessoas não se tocam e continuam tumultuando as aulas. O que nós podemos fazer? Virar para trás e mandar todo mundo cala a boca? Comprar um revólver e meter bala na cabeça de todo mundo? Desde quando sou pai e mãe de algum deles para ditar regras e impor respeito? Isso não é obrigação minha! Se eles não estão afim, o problema não é meu. Meu aprendizado não pode ficar comprometido por causa da infantilidade e irresponsabilidade dos outros. Ele pediu desculpas se “de alguma forma” o que ele disse nos ofendeu (e por que ofenderia, não é?), mas continuou mantendo sua posição de que nós é que devemos colocar ordem na sala. Saí dessa conversa tão nervosa que acabei descobrindo o que significam as crises que andei tendo nos últimos dias, com pontas dos dedos e boca formigando: nervoso.
Depois deste fato, fiquei ferida de morte. Até quando os justos terão que pagar pelos pecadores? Eu entendo perfeitamente o lado do professor, afinal, deve ser muito difícil dar aula nestas condições, com uma sala contendo pessoas incapazes de agirem como adultas, mas isso não dá a ele o direito de fazer o que fez, pois eu não posso ser responsabilizada pelo comportamento alheio.
É nestas horas que me pergunto até onde querer agir da melhor maneira possível é vantajoso. Eu sempre tento dar o melhor de mim em todos os quesitos da minha vida, mas tudo que tenho recebido em troca nos últimos tempos é descaso, broncas, ignorância e muitos motivos para me decepcionar com a vida e com o mundo. Depois as pessoas ainda me perguntam por que eu estou desmotivada, por que eu não tenho mais vontade de viver, nem de trabalhar, nem de ir à faculdade, nem de fazer qualquer outra coisa nessa vida! Parece que quanto melhor tentamos ser, pior é, e quando essas coisas vão se repetindo dia após dia, acabamos sendo contaminados pela parte ruim. Já que ser bom não me traz vantagens, que sejamos maus então. Pelo menos assim ninguém sofre. Vejo pessoas que não merecem chegar ao topo, mas, mesmo assim, estão lá, enquanto pessoas que se esforçam muito estão sempre degraus abaixo. E eu pergunto: é isso que é justiça? Quantas pessoas lutaram para passar de ano na raça, fizeram um monte de exames, estudaram como loucos e passaram, enquanto soubemos de pessoas que ganharam 2 ou 3 pontos dos professores no final do ano e agora estão sentados na mesma sala que nós, atrapalhando o nosso desempenho?
A minha pergunta é uma só: até quando a inversão de valores será tão grande? Até quando o mau sairá ganhando em tudo?

terça-feira, 20 de maio de 2008

Ainda Esperando

Like A Stone (tradução)
(Audioslave)

Numa tarde sombria
Em um quarto cheio de vazio
Ao lado de uma auto-estrada, eu confesso
Eu estava perdido nas páginas
De um livro cheio de morte
Lendo como nós morreremos sozinhos
E se nós formos bons, seremos enterrados para descansar
Em qualquer lugar aonde queiramos ir

Em sua casa, eu anseio estar
Cômodo a cômodo, pacientemente
Vou esperar por você lá
Como uma pedra, vou esperar por você lá
Sozinho

E no meu leito de morte, vou orar
Aos deuses e aos anjos
Como um pagão, a qualquer um
Que me levar para o céu
A um lugar que recordo
Eu estava lá tanto tempo atrás
O céu estava roxo
O vinho foi extraído
E lá você me enganou

Em sua casa, eu anseio estar
Cômodo a cômodo, pacientemente
Vou esperar por você lá
Como uma pedra, vou esperar por você lá
Sozinho

E continuei lendo
Até que o dia se acabe
E eu me sente, pesaroso
Por todas as coisas que fiz
Por tudo que abençoei
E tudo o que eu tratei injustamente
Em sonhos, até a minha morte
Eu continuarei vagando

Em sua casa, eu anseio estar
Cômodo a cômodo, pacientemente
Vou esperar por você lá
Como uma pedra, vou esperar por você lá
Sozinho

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Enquanto o dia amanhecer ainda haverá uma esperança
E enquanto houver esperança, nela me agarrarei
Para suportar o vazio das suas palavras soltas ao vento
E a escuridão do seu triste adeus...