Um outro tipo de amor

Numa noite dessas, meu filho chorou de madrugada e eu, com uma indisposição terrível para ouvir seus resmungos ou para ficar levantando de cinco em cinco minutos para colocar a chupeta na sua boca, coloquei-o em minha cama, na intenção de que ele dormisse logo.
Deitada ali com ele, caindo de sono, senti suas mãozinhas pequeninas tocarem meu rosto e meus cabelos, me fazendo carinho. Encostei-o em meu corpo, abraçando-o, e ele dormiu rapidamente, um rosto sereno e angelical de olhinhos fechados. E então, naquele momento, pela primeira vez em sete meses do seu nascimento, eu senti no meu coração a alegria causada pelo amor único e incondicional que é o de uma mãe.
Na manhã seguinte, quando estava saindo para o trabalho, ele ficou no colo da minha mãe me olhando pela janela, dando aquele tchauzinho lindo que ele aprendeu há menos de um mês e querendo chorar, chamando “mãmãmã”. Fui trabalhar chorando como ele, com vontade de ficar mais um pouco a seu lado.
De repente eu percebi que, não importa o que esteja acontecendo na minha vida, sou feliz por tê-lo comigo todos os dias, por receber um sorriso seu quando chego a noite cansada e derrotada, sorriso este que me faz esquecer todo o estresse do dia e que simplesmente acalma e alegra meu coração.
Percebi que as minhas decepções amorosas não são nada diante deste amor imponente e glorioso que cresce diante dos meus olhos todos os dias, amor este que eu sei que nunca vai acabar, que vai sempre se renovar, crescer, construir.
Percebi que já não importa mais tanto ter perdido o grande amor da minha vida, porque, apesar da perda, eu tive um ganho muito maior, que foi meu filho, um amor ainda mais forte e mais vivo. Percebi que não me arrependo em nenhum momento de ter escolhido meu filho, porque, mesmo diante da distância que nos separa, um dia inteiro de trabalho e faculdade, e com tantas pessoas a quem ele pode se apegar, ainda assim ele me escolhe todos os dias como a sua favorita. Eu o acolho em meus braços e sinto a alegria brotar no meu jardim já tão murcho pela dor da decepção.
Percebi que já não importa mais ter ou não um grande amor, porque agora o meu grande amor é ele, e sua presença completa minha vida de um jeito único, que só pode ser explicado através do amor.
Um ser que ainda nem sabe viver direito, mas que em sua inexperiência, ensina-me a viver todos os dias. Uma presença que me faz não desistir da vida. Uma pessoa que mesmo sem nem saber falar, me ensinou a acreditar em milagres, a ter esperança e a acreditar em Deus. Eu acho muito difícil existir alguma mãe que não acredite em Deus, porque ver o espetáculo da vida de camarote, todos os dias, nos faz perceber que não pode haver outra explicação senão a de uma força divina que rege todas as coisas.
Não posso dizer ao certo o que vivi nestes últimos sete meses, simplesmente porque eu também não sei direito, estava presa aos meus sentimentos e frustrações, estava arrasada pela dor de uma perda irreparável, não sei direito se cuidei do meu filho com toda a atenção e dedicação que ele merecia, mas eu acho que toda mãe tem um instinto que não a deixa errar, nem mesmo nos momentos de desespero.Mas hoje eu sei, e sinto, e vejo um amor diferente de todos os outros tipos de amor que já experimentei na minha vida. É um amor que nada leva, apenas agrega. Um amor que nada cobra, apenas ama. Um amor que nunca parte, mesmo quando está longe. Um amor que eu tenho certeza que será eterno, independente dos obstáculos que surgirem no caminho. Um amor que sempre será correspondido, mesmo que eu não veja ou não sinta. Um amor que será para sempre meu... Amor de mãe para um filho. Incondicional. Infindável. Indestrutível.