Adentrei o mundo das balanças e contagem de calorias ainda muito jovem. Sou gordinha desde que me entendo por gente. Já fui magra, uma única vez na vida, e foi à base de muita dieta (cheguei a pesar 60 kg. no final de 2004), mas não durou muito. É voltar a comer, volto a engordar.Desde muito cedo, conheci a dor e a delícia dos quilos a mais, e junto com todas essas sensações, aprendi o significado da palavra preconceito.
Sempre fui gordinha e nunca me importei com isso. Fui uma criança saudável, brincalhona, extrovertida e alegre, os quilos a mais nunca me incomodaram. Minha preocupação com a balança começou mais ou menos aos dez anos, idade em que a gente começa a se apaixonar pelos menininhos na escola. Comecei a me achar gorda demais para namorar o menino que eu gostava, e mesmo todo mundo me dizendo que ele estava gostando de mim também, eu não acreditava. Tanata menina magra na nossa sala, por que ele ia se apaixonar justo por mim? Sim, aos dez anos de idade, esse já era o meu pensamento. Esse era o meu preconceito comigo, mas o preconceito dos outros eu conheci pouco tempo depois.
Sempre fui uma pessoa com muitos amigos, daquelas que podem ser consideradas populares. Todo mundo queria estar comigo, queria ser meu amigo, queria meus conselhos e chorar suas pitangas no meu ombro. Mas não passava disso. Aos 13 anos nunca tinha beijado e me achava estranha por causa disso, já que todas as minhas amigas já partilhavam dessa experiência e eu não. O primeiro menino que beijei (e que foi também o meu primeiro amor) não levou o namorico para frente porque logo que seus amigos descobriram nosso lance, foram logo questionando-o: "você beijou a Nathalia, a gorda?". E caíam na gargalhada. Viramos motivo de piada, e ele se esquivou de mim, fazendo piada também para não ser apontado pelos colegas. Na época, eu fiquei ferida de morte e muito magoada com ele, mas hoje até entendo o seu ponto de vista. Não era nada fácil para um garoto de 12 anos ficar aguentando chacota dos amigos só por causa de uma menina, mesmo que ele gostasse dela, conforme ele disse para mim que gostava.
Pode parecer uma história boba, mas ela passou a ser a raiz de todos os meus problemas com autoestima. O pior de tudo, é que eu nem era tão gorda assim, e era aquilo que me magoava. Eu me olhava no espelho e não via nada de errado com a minha aparência. Inclusive, eu havia acabado de fazer parte de uma força-tarefa para emagrecimento da escola que eu estudava e havia eliminado 7 kg. Era uma menina de 13 anos com 54 kg.
Minhas amigas pegavam todos os carinhas da escola e eu, nada. Nas festas, enquanto elas eram adoradas, fotografadas e filmadas pelos meninos em suas danças sensuais (pois é, sou do tempo em que o É o Tchan era a banda do momento e tocava em todas as festas), eu era cortada das fotos e filmagens, pois não tinha a beleza-padrão imposta por eles. Sim, as pessoas faziam piadinhas acerca do meu peso, me colocavam apelidos e nada disso era agradável. Diziam que eu era uma excelente amiga, uma pessoa espetacular, me davam beijos no rosto e se atracavam com as minhas amigas bonitas e fúteis. Eu dava risada, dizia que não me importava, fingia que não era comigo, mas por dentro ficava estraçalhada, magoada, triste e com ódio por não ser magra.
Passei todo esse tempo da minha vida odiando meu corpo, minha imagem e minha condição. Achava que jamais teria um namorado e que ninguém iria me amar de verdade, tudo isso porque eu era gorda. Cresci com essa ideia, e ela não fez nada bem aos meus relacionamentos. Namorei homens que não me mereciam e nem me valorizavam, de caráter e reputação duvidosos, porque achava que eles eram os únicos que iam me querer. Quando um homem bonito e/ou decente se aproximava de mim, achava que ele estava debochando, que tinha feito uma aposta com alguém ou que só queria se divertir e me esquivava dele. Sabotava a minha própria vida com medo de ser machucada novamente. E quando namorava um bom rapaz, achava que ele ia me trocar pela primeira magrela que aparecesse na frente dele, então sufocava-o com meu ciúme doentio e infundado, e colocava tudo a perder.
Hoje, aos 25 anos de idade, no auge do meu peso (já cheguei a 92 kg. pós-gravidez, agora estou com 81,7 kg.) e mãe solteira de um menino lindo de quase dois anos de idade, me pergunto se o fracasso dos meus relacionamentos afetivos têm haver com o meu peso. Alguns anos atrás, não muitos, eu responderia que sim. Hoje, mais madura e bem calejada das dores da vida, afirmo, com 100% de certeza, que não. O que me limitou, dificultou ou destruiu coisas na minha vida foi a minha visão acerca de mim, não o meu peso ou meu corpo fora dos padrões internacionais de beleza. Por me sentir incapaz de realizar determinadas coisas, passava essa ideia também às pessoas ao meu redor. Somos o que pensamos ser, e as pessoas nos vêem como nós mesmos nos vemos. Essa é a lei, quer você queira, quer não.
Conheço um monte de gordinhas e gordinhos que são extremamente felizes e bem resolvidos, que têm amores e famílias e nenhuma intenção de emagrecer. Se gordura fosse fator limitante para alguma coisa, todos eles estariam sozinhos, infelizes e se acabando em frente à TV com um pote de sorvete.
Acho bacana que as pessoas queiram emagrecer e ter uma vida e um corpo mais saudáveis, inclusive eu estou nesta luta também, mas acredito que em primeiro lugar, precisamos nos amar e nos aceitar exatamente como somos, porque não importa qual seja o peso ou o manequim que usamos: somos pessoas dignas de amor e respeito. Além disso, todas as pessoas têm qualidades que vão além de um corpo malhado, qualidades estas que devem ser vistas e apreciadas. De nada adianta ter um corpo lindo e uma cabeça vazia. Até acho que hoje em dia muitos relacionamentos não estão dando certo porque a maioria das pessoas no mundo dá mais valor a aparência do que ao caráter.
Não perca mais tempo se escondendo em casa, atrás de um monte de comida e muita mágoa, como eu fiz por muitos anos da minha vida: você realmente não precisa ser magra para ser feliz e linda. Aliás, se você já não é feliz hoje, provavelmente também não será quando estiver magra, nem se pesar 40 kg., porque o problema real não está nos números mostrados pela balança, mas na sua autoestima e na sua autoimagem.
Você pode ser linda com 50 ou com 100 kg., basta você fazer por onde, se arrumar, se cuidar, vestir uma roupa legal, usar uma maquiagem. Além disso, não pense só no corpo, não: seja uma mulher inteligente, antenada, interessante, bem humorada, simpática. E então verá que beleza não é só um corpo esguio, mas uma alma leve e saudável.
Seja feliz hoje, agora, e todas as possibilidades se abrirão para você!
Beijos.