Objetivo

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

A história de uma vida - contada por sua mãe

A história começou no dia 12 de junho de 2005, Dia dos Namorados. Conheci seu pai no Playcenter, ele era amigo do seu tio / padrinho e foi convidado por ele para nos acompanhar naquela tarde ensolarada de diversão. Mamãe estava com um mau humor terrível, envolvida em um relacionamento que beirava o fracasso, e ao lado do papai, teve uma divertida tarde, com muitas risadas e conversas.
Quando o passeio acabou, porém, mamãe sentiu uma pontada no coração: talvez aquela fosse a primeira e última vez que veria o papai, pois nem telefone havíamos trocado. E eu havia gostado dele. Era um garoto divertido e muito engraçado, além de espontâneo. Seríamos excelentes amigos se isso fosse possível...
Inesperadamente, o seu tio me passou o MSN do seu pai, e iniciamos longas conversas virtuais. Papai e eu virávamos noites papeando, eu não prestava atenção em uma palavra do que o professor dizia durante meu curso de TI, só concentrada nas frases que papai escrevia para mim naquela telinha.
Eu vivia dizendo para ele que não queria que nos afastássemos, que eu tinha gostado muito dele e que nossa amizade era muito boa, porque nossos gostos eram muito parecidos, e ele concordava comigo sempre. Numa dessas noites de papo na internet, depois de enviar para ele a música “Longe de Você”, do Charlie Brown Jr., no final da conversa ele disse que queria me ver pessoalmente, porque pela net e pelo telefone não dava para fazer “certas coisas”. Sem compreender direito o que significava “certas coisas”, pedi que fosse mais específico. Então, meio tímido, ele expôs seu interesse por mim. A essa altura, filho, eu confesso: eu já estava me apaixonando por ele.
Nosso encontro aconteceu duas semanas depois da ida ao Playcenter, na Praça Giovani Breda, onde hoje levo você para passear nos finais de semana.
Naquela mesma noite, além de sabermos um pouco da vida um do outro, rolou nosso primeiro beijo. Era uma noite bem gelada, e até hoje eu não sei se o meu rosto estava vermelho e ardia por causa do frio, ou se era por causa do beijo do papai.
Desse dia em diante, não nos separamos mais. Eram filmes na minha casa, passeios com a tia Paty e o tio Lê, momentos a sós para curtirmos nosso relacionamento, enfim... era só alegria!
O namoro tornou-se oficial no dia 17 de julho, depois de confessarmos um ao outro, rindo, que nossas mães diziam: “seu (sua) namorado(a) está no telefone”, quando ligávamos um para o outro.
Começava ali, filho, o maior amor da vida da mamãe....
Nosso namoro oficial durou 1 ano e 10 meses, e, apesar de alguns problemas, eu fui muito feliz nesse período. Os problemas vinham da desconfiança do papai com relação ao amor, o medo absurdo que ele tinha de se apaixonar e a dúvida que ele tinha em relação ao que eu sentia por ele. Mamãe sabia que estava se metendo em uma enrascada, mas, mesmo assim, insistiu naquele relacionamento, porque algo que ela não sabia direito o quê, a impulsionava a isso.
Eu não estava errada, filho. Fomos felizes demais! Mamãe conseguiu, não só convencer o papai de seu amor, como despertar nele amor por mim! Viagens, reuniões de família, fins de ano juntos, fotos, dias e noites juntos estão ainda vivos na minha memória, são a prova do quanto foi bom e intenso o que vivemos.
Até que um dia acabou, como tudo acaba. A mamãe só não sabia que doía tanto assim a ausência da pessoa amada! Papai terminou o namoro pelo telefone, sem maiores explicações. Disse, apenas, que achava que não me amava mais.
Sofri muito, Rhian, porque amava demais seu pai. Fiquei doente, não sentia vontade de comer e nem de sair, a vida perdeu o sentido. Um mês e pouco depois do término, e após um email que enviei a ele pedindo explicações sobre o fim, papai voltou em minha casa, declarou-se, disse que eu era a mulher da vida dele e que me amava muito. Pediu perdão, disse que não sabia onde estava com a cabeça quando terminou, mas que queria ficar a meu lado. Reatamos o namoro, que durou apenas três dias. Novamente pelo telefone, ele disse que me amava, mas que não estava pronto para viver aquele amor, porque comigo era sério.
Pouco tempo depois, ainda arrasada, descobri que papai estava namorando uma colega de faculdade, a última pessoa pela qual imaginei ser trocada, pelas coisas que ele falava a seu respeito.
Pensei que fosse enlouquecer, filho, tamanho era meu sofrimento. Tentei esquecer seu pai, comecei a sair com os amigos, comecei a me relacionar com outra pessoa, mas eu não conseguia. Cada reencontro com seu pai era uma certeza de que aquele amor ainda não tinha saído do meu coração.
Muitas coisas aconteceram neste meio tempo. Mamãe foi obrigada a ler emails desagradáveis da namorada nova do papai, que não compreendia o quanto eu estava sofrendo porque eles decidiram ser dois inconsequentes apaixonados que não pensaram nas pessoas que haviam machucado para ficarem juntos (ela também tinha namorado quando decidiu ficar com o papai).
No dia primeiro de janeiro de 2008, de volta da praia, recebi um email de seu pai me desejando um Feliz Ano Novo e muita felicidade. Liguei para ele e combinamos de nos encontrar. Fui até sua casa, ansiosa para vê-lo, e encontrei seu pai tão magro e abatido, mas continuava com aquele sorriso arrebatador que conquistou meu coração.
Naquela noite, convidei-o para dormir lá em casa, pois ambos estávamos sozinhos e ele ainda tinha o agravante de estar sem televisão em casa, pois a família a levara para a viagem.
Não estava nos meus planos, apesar de amá-lo demais, mas naquela noite dormimos juntos e eu matei uma saudade que já durava cerca de 8 meses. Ter seu pai nos braços sempre foi minha maior perdição e meu maior desejo, desde que o conheci. No outro dia, na sala da minha casa, chorei abraçada a ele, enquanto ouvíamos Pitty e ele me dizia que eu era uma mulher linda e não devia me deixar abater pelo que ele fez, porque o problema era ele, não eu. Aquela conversa tinha gosto de despedida, e meu coração já começou a doer.
No dia seguinte, com medo de não vê-lo nunca mais, faltei ao trabalho para prolongar o que seria inevitável: sua partida. Se eu tivesse morrido naquele dia, teria partido feliz, porque estar com ele era a única coisa que importava na minha vida.
Mas o dia acabou, ele se foi, mas não deixamos de nos ver, como eu temia. Continuamos nos encontrando, às escondidas, como dois adolescentes com medo dos pais. Depois, nosso caso ficou explícito. Era igualzinho ao namoro, nos víamos todos os finais de semana, eu dormia na casa dele, mas ele não queria chamar o que estávamos vivendo de compromisso. Não era a vida que eu queria para mim, mas se era a vida que ele queria para ele e para ficar ao seu lado eu precisava aceitá-la, então, para mim, estava tudo bem.
Mas seu pai estava ainda mais frio do que costumava ser. Às vezes, me ligava pedindo para que eu dormisse com ele, outras vezes parecia nem fazer questão de me ver. A insegurança do que estávamos me vivendo me angustiava e enlouquecia todos os dias.
Até que o inesperado aconteceu. Menstruação atrasada há seis dias, cólicas insuportáveis, seios inchados... mas nem passou pela minha cabeça que poderia ser uma gravidez, afinal, eu tomava anticoncepcional e, apesar de sempre tê-lo tomado de maneira irregular, nada nunca aconteceu. Eu pensava em alguma disfunção hormonal, doença, sei lá, mas não gravidez. A “ficha” de que poderia ser um bebê a caminho só caiu quando fui procurar a enfermeira do meu trabalho para relatar o que estava acontecendo e ela me disse que tudo isso eram sintomas de gravidez. O coração deu um salto. Não podia ser! O que eu faria se fosse?
Tratei logo de comprar o teste de farmácia, incentivada por uma amiga do trabalho, corri para o banheiro e o fiz, no meio do expediente. Se dentro de cinco minutos aparecesse uma fitinha rosa, era negativo. Se nos mesmos cinco minutos aparecessem duas fitinhas rosas, era positivo.
No meu caso, não foram necessários cinco minutos. As duas fitinhas rosas apareceram assim que meu xixi entrou em contato com a fita do teste. Confesso, filho, que a primeira sensação foi susto. A segunda, medo. Mas depois de todas elas, uma alegria enorme tomou conta do meu coração. Eu sabia de todas as dificuldades que passaria, mas eu estava gerando uma vida dentro de mim, como poderia não me sentir bem com isso? Chorei ao pensar que poderia ser mãe solteira, mas prometi que jamais sequer cogitaria a ideia de interromper essa gravidez. Estava decretado: você nasceria, com ou sem o consentimento do seu pai.
Fiz o exame de laboratório naquele mesmo fim de semana, e vi o resultado positivo na casa do seu pai, sozinha na frente do computador. Minha fisionomia mudou completamente, mas eu não tive coragem de falar com ele sobre o assunto naquele momento, pois no dia seguinte ele prestaria um concurso público e eu sabia que a notícia iria desestabilizá-lo.
Na terça-feira da semana seguinte, fui até sua casa. Ele sabia que algo estava acontecendo, pois nos conhecemos apenas pelo olhar. Joguei a notícia em cima dele, sem nem pensar. Estendi o exame para ele enquanto o via acender um cigarro, dizendo: “não pode ser”. Mas era.
Pela primeira vez, vi seu pai chorar. E não era de alegria. Um desespero imenso tomou conta dele, que fumou mais de cinco cigarros seguidos. Chorou dizendo que não estava preparado para ser pai.
Passados alguns instantes do choque, ele se aproximou de mim, perguntou se você já se mexia, questionou se seria menino ou menina, e disse para eu ficar calma que daríamos um jeito. Jurou que não me abandonaria.
O que aconteceu desse dia em diante, filho, nem eu sei explicar. Papai oscilava entre momentos de carinho e alegria comigo, e momentos em que me acusava de ter engravidado propositalmente para mantê-lo ao meu lado.
Ele me acompanhou durante o primeiro ultrason, onde você era apenas um pequeno grão de 11 mm. Na noite anterior ao ultrason, ele dormiu com a mão na minha barriga, alisando você.
Vi seu pai pela última vez no aniversário de 1 ano do seu primo Murilo. Ele já estava estranho. Evitava minha presença. Não queria ficar perto de mim. Tratava-me de maneira ríspida, quase agressiva. Fazia de tudo para não estar ao meu lado.
Na semana seguinte ao aniversário, tentei falar com ele, queria vê-lo. Ele me disse que faria uma entrevista de emprego e, quando chegasse, me telefonava. Ele não telefonou. Quando tentei falar com ele novamente, ele me acusou novamente de ter engravidado de propósito, de ter destruído a vida dele, e me disse tantas coisas ruins, que desliguei o telefone aos prantos, passando mal.
Desse dia em diante, nunca mais nos vimos, nem sequer nos dirigimos a palavra. Seu pai saiu da minha vida e não deu nenhum sinal se voltaria algum dia.
Tive o apoio de sua avó e seus tios, mas dele não tive nem uma palavra. Se ele soubesse que estava na casa de sua avó ou de qualquer uma de suas tias, não ia lá. Escutei algumas vezes o portão da casa da sua avó ser aberto e rapidamente fechado novamente, ao ouvir a minha voz. Certa vez, estava na casa da sua tia Fernanda, ele tinha ido jogar sinuca com seus tios, e eu tinha esperança de que na volta ele subisse para falar comigo e para sentir o quanto você já chutava na minha barriga. Seu pai não apareceu nem para dar um oi e saber se estava tudo bem conosco. Naquela noite, eu pensei que fosse morrer, de tão intensa a dor que senti.
Somente eu e você, filho, sabemos o que passamos nestes 5 meses que se seguiram.
Uma sensação de abandono completo. Compra de enxoval sozinha. Medo de ter um filho sem pai. Seu pai não foi nem ao ultrason morfológico, e quando liguei para ele para contar que você era um menino, ele veio falar de questões financeiras, que não cabiam naquele momento tão lindo. As pessoas me contando que seu pai me desprezava, não queria nem ouvir falar de mim. Choros compulsivos todas as noites, antes de dormir. Medo. Silêncio. Angústia. Desespero. Uma esperança muito grande de que a felicidade chegasse quando você nascesse.
Em meio a toda essa tempestade, havia uma coisa muito boa: você crescendo dentro da minha barriga. Eu te quis desde o primeiro segundo em que soube que você estava sendo gerado dentro de mim. Eu não deixei de te desejar por nem um momento sequer, mesmo sabendo o quão difícil seria o nosso futuro.
A 11 dias do seu nascimento, papai foi me procurar. Pediu desculpas por tudo o que fez, disse que não sabia onde estava com a cabeça e que queria assumir você, ser um pai presente. Emocionou-se ao ver seu quartinho já todo arrumado. Sentiu seus chutes em minha barriga pela primeira vez. Tomou, finalmente, o lugar que era seu desde o primeiro instante da minha gravidez.
Você nasceu no dia 13 de fevereiro de 2009, às 20h30, no Hospital São Lucas, em Diadema, de parto normal, pesando 3,240 kg. e medindo 49 centímetros. Junto com você, nasceu a felicidade em minha vida. Você já era lindo, filho! Tinha uns olhos grandes e bem expressivos, um choro alto, uma pele branquinha e as mãozinhas e pezinhos delicados, apesar de bem grandinhos para um recém-nascido.
Seu pai estava lá. Nos acompanhara até o hospital na ambulância, segurou a mão da mamãe enquanto eu sentia as contrações finais do parto, chorou como criança ao saber do seu nascimento, tirou mil fotos para mostrar para todo mundo.
Você trouxe de volta a alegria, não só ao meu coração e ao do papai, mas aos corações de toda a nossa família. Você é muito amado, filho. Eu não posso mais viver sem você na minha vida, apesar de tudo o que passei e passo até hoje.
Eu só quero que você saiba que é tudo na minha vida, e que não me arrependo em nenhum segundo por ter aceito a missão que Deus me confiou e lutado por você.
Hoje, posso dizer que somos uma família. Não uma família convencional, pois seu pai e eu não temos mais um relacionamento amoroso, mas somos uma família unida, vivemos civilizadamente em seu benefício, o amor por você nos une.
O coração da mamãe ainda dói, mas hoje a prioridade da minha vida é você. Meus melhores sorrisos são para você. Meus maiores esforços são por você. Meus principais sonhos são para você. O melhor que eu tenho em mim, foi você quem me trouxe.
E, de repente, coisas que faziam tanto sentido deixam de ser importantes quando olho para o seu rostinho de anjo. Sei que Deus mandou você para mim para renovar as esperanças já mortas, para dar sentido a uma vida já tão apagada pela dor da decepção e para, finalmente, me fazer conhecer o sentido da palavra felicidade.
Você é como o sol que brilha depois de uma longa e fria tempestade, é um sonho que se tornou realidade muito antes da hora esperada, mas mesmo assim não deixou de ser o melhor e maior acontecimento da minha vida.
Você transformou toda a dor em alegria, você me deu um novo ânimo de vida com a sua existência, não existe amor maior do que esse que estou sentindo desde o dia em que você chegou.
Ver todos os dias um sorriso que me faz sorrir também. Fitar esses olhinhos brilhantes e curiosos e sentir que minha missão é guiá-los pelo caminho da verdade e do bem. Acordar todos os dias, olhar para o berço ao lado da minha cama e me lembrar que eu tenho um motivo para viver e tentar mais uma, duas, mil vezes, mesmo que já esteja fraca, exausta e prestes a desistir. Sentir no meu coração a alegria única da sua presença, da sua vida jovem e pulsante. Irritar-me com seus chiliques noturnos, mas ter a certeza de que não posso mais viver sem eles. Ter plantada em meu coração a certeza de que se o tempo voltasse e eu pudesse fazer uma escolha consciente, escolheria ter você de novo, e de novo, e mais uma vez. Porque o amor que nos une é a maior felicidade que pode existir na vida de uma pessoa. Ser mãe é a maior benção que pode existir na vida de uma mulher.

Feliz Aniversário, meu filho! Eu te amo mais do que tudo nessa vida!

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